Pesquisar este blog

terça-feira, 13 de julho de 2010

A fórmula da Odebrecht para reter conhecimento

Há cerca de 15 anos, a Odebrecht resolveu investir mais na gestão do conhecimento e passou a estimular os funcionários a compartilhar o que aprendiam no trabalho. Foi com essa proposta que a empresa criou uma plataforma online onde todos deveriam registrar diariamente um aprendizado. A iniciativa foi por água abaixo.
"Acho que esse sistema está no ar até hoje, mas ninguém usa", conta André Amaro, diretor de planejamento e desenvolvimento da Odebrecht. A pouca popularidade da plataforma virtual entre os funcionários não representa surpresa para a professora do IESE Business School da Universidade de Navarra (Espanha), Beatriz Muñoz-Seca. Com mais de 20 anos de estudo do tema, ela é taxativa: "a tecnologia não serve para nada, principalmente porque as pessoas não abastecem o conhecimento nos bancos de dados. Não adianta ter um banco de dados sem ter pessoas dispostas a preenchê-lo".

Gestão de conhecimento é um termo pomposo para um problema muito comum: encontrar meios de preservar e de fazer circular as informações vitais para o dia-a-dia de uma empresa. Esses dados, que estão dispersos na cabeça de todos, vão desde o simples número de telefone de um fornecedor, até detalhes de projetos e contratos, passando pelos motivos pelos quais uma solução foi escolhida para certa questão, e não outra. E o motivo pode ser algo tão banal quanto a incompatibilidade do computador com o software, ou algo estratégico, como um acordo que seria assinado - e não foi. Assim, a gestão de conhecimento existe para fazer com que todos tenham acesso aos dados necessários para trabalhar bem, e na mesma direção. Além disso, impede que informações importantes sejam perdidas com a mera saída de um funcionário da empresa.

Mudança de estratégia

Provando na prática o que a professora percebeu em anos de estudo, a Odebrecht optou por outra linha. O compartilhamento de aprendizado na empresa passou a ser feito de forma bem mais informal. Agora, os funcionários se dividem por especialidade e têm autonomia para manter contato, marcar reuniões periódicas e trocar experiências. As diretorias não obrigam os empregados a nada, apenas incentivam o contato. "Se não dermos a liberdade que damos, dificilmente as pessoas vão tomar a iniciativa. Nós temos a preocupação de criar uma cultura de colaboração", defende André Amaro.

É exatamente essa cultura que falta à maioria das empresas, de acordo com o professor do ISE Brasil, Fábio Cerquinho. Para ele, dificilmente as ferramentas como bancos de dados e redes sociais virtuais cumprem o papel de repassar as informações, pois poucas pessoas têm real interesse em compartilhar. "Isso depende muito da cultura e da abertura das pessoas. Nada disso é automático. É preciso que seja facilitado e estimulado pela direção".

O valor da informação

Os professores Fábio Cerquinho e Beatriz Muñoz-Seca consideram que as pessoas não dividem o conhecimento porque acreditam que valem aquilo que sabem e, se dividirem as informações, podem ficar vulneráveis e perder valor na empresa. De acordo com André Amaro, a cultura desenvolvida na Odebrecht não permite que isso ocorra. Normalmente, as reuniões são anuais, mas os problemas do dia-a-dia também costumam ser solucionados com base na ajuda mútua. "Se alguém tem que resolver algo, entra em contato com o setor e procura saber quem tem aquela informação", conta.

Mesmo sem ter um registro formal de experiências em um banco de dados, o diretor não se preocupa muito com a possível perda de conhecimento quando um funcionário sai da empresa, por exemplo. Assim como os professores Beatriz Muñoz-Seca e Fábio Cerquinho, André Amaro tem consciência de que o saber é algo que não pode ser guardado em uma caixa - ou em um computador. É preciso partilhá-lo e usá-lo enquanto existe.

Fonte: Portal Exame por Luciana Carvalho

5 comentários:

  1. Marcelo, a fórmula da Odebrecht nos remete a importância do estabelecimento de relações de confiança para que o conhecimento seja retido e multiplicado e confirma que tecnologia pode facilitar mas não garante a aderência por si só. Muito bom para refletirmos que apesar de toda modernização dos processos, as pessoas são primordiais e devemos proporcionar ambiente favorável para interação.
    Postado por Patrícia Rodrigues Correia

    ResponderExcluir
  2. Excelente!
    Sempre penso na Odebrecht como modelo...
    Muito bacana, é legal trabalhar em um lugar onde sentimos que fazemos parte.
    Onde a confiança é notável.

    ResponderExcluir
  3. Adorei! Não basta fazer uma GC para "inglês ver". Ninguém adere! Precisa ser algo útil e fácil de usar, além de ter um valor social dentro da empresa, que fortaleça bons vinculos e valorize o que as pessoas têm de melhor.

    ResponderExcluir
  4. Muito legal a Matéria da Odebrecht! No meu grupo de trabalho, temos o costume de nos reunirmos toda a primeira segunda-feira do mês para trocarmos conhecimento, seja uma apresentação de palestras assistidas, algumas novidades de cursos que fazemos externamente ou alinhar a própria metodologia do nosso trabalho. Isto tem funcionado e trazido bons resultados. Lendo está matéria pensei que podemos estar no caminho de um trabalho de Gestão de conhecimento.

    ResponderExcluir
  5. Ótimas idéias de uma empresa bem próxima, super interessante ver como funciona aqui no Brasil.

    ResponderExcluir